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Ombro congelado | Capsulite adesiva

Vera Martins Morgado 

O ombro congelado manifesta-se na perda progressiva e dolorosa dos movimentos dessa articulação, estando ainda pouco esclarecida a causa potenciadora da instalação da condição clínica e dos seus sintomas. Estando descrita como uma fibrose do tecido da articulação do ombro, manifesta-se clinicamente como dor severa no ombro com restrição progressiva do movimento ativo e passivo, associado à incapacidade prolongada desse segmento e alterações do sono, com potencial impacto na qualidade de vida da pessoa, sendo o seu objetivo primordial obter liberdade de movimento sem dor o mais rápido possível. Nos exames radiológicos normalmente não apresentam achados anormais significativos. 

É recomendada a definição de ombro congelado primário ou idiopático quando não há razão específica para a sua origem nem está associado a outras comorbilidades. O ombro congelado parece ser mais comum em pessoas entre os 50 e os 60 anos. Estima-se que a incidência do ombro congelado varia de 0.75% a 5.0% da população, sendo incerta a sua distribuição entre homens e mulheres e se é mais comum nas mulheres ou equilibradamente distribuída e é maior em pessoas com diabetes (10-46%).

Existe, também, incerteza quanto ao curso temporal da condição clínica, com estudos indicando médias de 15 a 30 meses, com 41% de pessoas com sintomas após 52 meses. Um outro estudo sugeriu que 50% das pessoas reportaram dor e rigidez moderada do ombro e 60% reportaram amplitude de movimento restrita numa média de 84 meses. A condição clínica do ombro congelado tem um prognóstico que progride tipicamente ao longo de 3 fases transitórias que se sobrepõem, de aumento de dor e rigidez progressiva (fase 1 de 2 a 9 meses), de rigidez mantida e diminuição de dor (fase 2 de 4 a 12 meses) e de recuperação/resolução (fase 3 de 5 a 24 meses). Lewis sugeriu um método simplificado de classificação, consistindo numa fase de dor maior do que a rigidez e numa fase de rigidez maior do que dor. Muitos pacientes podem ainda experienciar sintomas ao fim de 6 anos.  

Ainda não existe um consenso ou certeza quanto ao tratamento mais eficaz em relação ao custo-benefício e mais efetivo quanto ao impacto no curso da condição e na modificação dos sintomas dos pacientes. Atualmente, parece ser recomendado o uso de injeções intra-articulares de corticosteroides com adição de um programa de exercícios domiciliário baseado em exercícios de trabalho de amplitude articular e alongamentos a pacientes com ombro congelado com duração de menos de 6 meses a 1 ano, parecendo ter benefícios precoces em comparação com outras intervenções, podendo esses benefícios durar até 6 meses. É, também, sugerido a consideração de fisioterapia com base em modalidades de eletroterapia e mobilizações supervisionadas, devido aos possíveis benefícios a médio prazo e possível uso na contraindicação da injeção, embora a terapia manual envolva um elevado número de tratamentos e incerteza de se obter diferenças clinicamente significativas. Existem outras intervenções que demonstram resultados promissores, embora atualmente tenham evidência limitada para a retirada definitiva de conclusões, como a mobilização sob anestesia, a artroscopia para libertação capsular, entre outros. A continuação do estudo desta condição potenciará obter mais informação. 

Torna-se relevante educar os pacientes de que o ombro congelado é uma condição autolimitada que usualmente dura de alguns meses até mais de 1 ano para se resolver, e a decisão quanto ao tratamento deve ser baseada em informação atualizada sobre os riscos, os benefícios e as alternativas das diferentes modalidades de tratamento.

Referências bibliográficas 

Challoumas, D, Biddle, McLean, M, Neal L. Millar, NL. (2020). Comparison of Treatments for Frozen Shoulder, A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Network Open. 3(12), e2029581. doi:10.1001/jamanetworkopen.2020.29581 

Lowe, C, Barrett, E, Mccreesh, K, De Búrca, N, Lewis, J. (2019). Clinical Effectiveness of Non-surgical Interventions for Primary Frozen Shoulder: A Systematic Review. Journal of Rehabilitation Medicine, 51, 539-556.