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atividade fisica vs exercício fisico

Atividade Física Vs Exercício Físico

Os conceitos de atividade física e exercício físico são muitas vezes confundidos. Então, o claro conhecimento sobre ao que cada um se refere ajuda a perceber que atividade física é um termo mais abrangente que o de exercício físico.

Por atividade física entende-se todo e qualquer movimento realizado pela musculatura esquelética que resulte num dispêndio energético acima dos valores de repouso. Exercício físico diz respeito à prática consciente da atividade física que vise atingir um objetivo específico. Assim, subentende, ainda, uma organização e planeamento da mesma ao longo do tempo.

O que ganho ao praticar exercício físico?

Com a clarificação dos conceitos anteriores, conseguimos então perceber a diferença. Quando falamos de algo organizado, programado e com um objetivo, falamos de exercício físico. Se quisermos, portanto, atingir um objetivo – perda de peso, ganho de massa muscular ou prevenção – teremos de realizar exercício físico.

Atualmente, existe evidência cientifica que demonstra a importância da atividade física na prevenção de mais de 20 doenças e fatores de risco como:

  • doença coronária,
  • diabetes tipo II,
  • AVC,
  • hipertensão,
  • síndrome metabólico,
  • colesterol,
  • cancro da mama,
  • bem como quedas.

A atividade física apresenta-se como uma forte ferramenta na prevenção e melhoria destas doenças uma vez que promove efeitos:

  • na aptidão cardiorrespiratória e muscular,
  • no peso e composição corporal,
  • na densidade óssea
  • na capacidade cognitiva,

fornecendo assim uma melhoria da qualidade de vida.

atividade física

UK Chief Medical Officers’ Physical Activity Guidelines, 2019

Como está o nosso país a nível de Atividade Física?

Parece dicotómico enumerarmos todos estes benefícios da prática de exercício físico e falar agora de dados representativos da população portuguesa, cuja informação é preocupante.

Num estudo realizado por Min-Lee et al. (2012), o autor apresenta a inatividade física em Portugal como responsável por:

  • 8% dos casos de doença coronária,
  • 11% dos casos de diabetes tipo II,
  • 14% dos casos de cancro da mama,
  • 15% dos casos de cancro do colon.

14% das mortes em Portugal são causadas pela inatividade física, situando Portugal como o 7º país da Europa com valores mais elevados. Significa então que, se mais do que apenas 23% da população portuguesa cumprisse as recomendações da OMS, poderíamos evitar 1 em cada 7 mortes por ano.  

Atualmente, quer em adolescentes, quer em adultos, não estão a ser cumpridos os níveis mínimos de atividade física, recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A organização mundial de saúde (OMS), investigou em vários países, entre 2001 e 2006, os níveis de atividade física.

Neste estudo, concluíram que 4 em cada 5 adolescentes não são ativos o suficiente e não cumprem as recomendações da OMS, mesmo estas recomendando apenas 1h diária de exercício físico. Desta forma, Portugal está assim acima da média global, onde 84% dos adolescentes não faz exercício suficiente. Este estudo diz-nos ainda que as raparigas praticam menos exercício físico que os rapazes.

É certo que têm sido desenvolvidas estratégias por parte de diferentes órgãos, como escolas, câmaras municipais e até a criação de programas nacionais, de incentivo à prática de exercício físico, no entanto, também o tempo passado em comportamentos sedentários tem aumentado.

atividade física

UK Chief Medical Officers’ Physical Activity Guidelines, 2019

Quando devo começar a Atividade Física e quanto tempo demoro para ver alterações?

A prática de exercício físico deve ser uma preocupação que nos deve acompanhar ao longo de toda a vida, estando conscientes de que nunca é tarde para iniciar. Logo, para cada idade ou fase da vida, o exercício físico tem um benefício a oferecer que culmina sempre no mesmo resultado: longevidade e qualidade de vida. Portugal falha nos níveis de atividade física recomendados tanto em adultos como nos mais jovens, havendo assim uma necessidade clara de mudança. 

Nesse caso, devemos perceber também que, para beneficiar das vantagens da prática de exercício físico, devemos respeitar algumas “regras”. Então, todo e qualquer estímulo possui um efeito orgânico mais ou menos duradouro. E a duração do efeito orgânico está diretamente relacionada com a duração de aplicação do estímulo.

Reversibilidade da Atividade Física

Então, no âmbito do exercício físico não há qualquer estímulo que provoque uma adaptação “vitalícia”, mas sim estímulos cuja adaptação é sempre reversível. A reversibilidade do efeito produzido no organismo dá-se com a interrupção prolongada da prática de exercício físico. Com isto quer-se dizer que uma prática convencional ou até sazonal de exercício físico não apresenta grandes alterações no organismo. 

Retardabilidade da Atividade Física

Deste modo, outra característica dos estímulos físicos é o que estes regem-se por um princípio designado por retardabilidade, ou seja, os efeitos da estimulação não se fazem sentir de forma imediata. Então, um indivíduo que inicie a prática de atividade física não tem benefícios imediatos (diminuição do colesterol, alteração de peso e composição corporal, diabetes, AVC, entre outros). 

Assim, é importante que se desmistifique a ideia de que o facto de se treinar de forma periódica não apresenta resultados significativos (quer metabólicos, quer físicos), nem permite obter os benefícios da prática de exercício físico de forma regular e estruturada. 

Assim, apenas a prática regular assegura a obtenção e manutenção das adaptações metabólicas e musculares, que beneficiam a saúde dos indivíduos. Esta noção de prática regular aplica-se a todas as pessoas, independentemente da idade, mas considerando o estado de saúde. O exercício funciona, em muitos problemas de saúde, como um fator determinante na melhoria dessa condição patológica, a médio-longo prazo. Por isso, desde os problemas oncológicos, à dificuldade nas tarefas diárias como levantar da cadeira ou caminhar, à diabetes e aos problemas cardiovasculares, o exercício físico tem um efeito positivo na melhoria destes. 

Texto da autoria da Fisiologista Margarida Cavaca