António Gaspar > Crioterapia – da evidência cientifica à prática
crioterapia

Crioterapia – da evidência cientifica à prática

Crioterapia. Uma palavra tão pomposa para uma aplicação tão mundana e talvez umas das terapias mais utilizadas por todos.

Em atletas de alta competição de classe mundial esperava-se uma abordagem mais refinada, rigorosa e talvez até mais dispendiosa.  No entanto, o frio imediato (vulgarmente chamado de ‘gelo’ ou ‘spray milagroso’), de tão humildade a sua abordagem, conquistou sempre lugar de destaque nas malas dos profissionais de saúde desde os hospitais até aos “relvados”.

O que nos diz a ciência?

Segundo Bleakley & Davison, o objetivo primordial da aplicação da crioterapia é o de controlo da resposta inflamatória do corpo.

De forma sucinta, ao reduzir a temperatura local os vasos contraem, diminuindo, assim, o fluxo sanguíneo. Com menos sangue há menos substâncias inflamatórias e menos edema. Ocorre também uma inibição dos recetores nervosos da dor (nociceptores) localmente.

Contudo, a ciência (ainda) não conseguiu provar a sua eficácia clínica na totalidade. Um conjunto de cientistas, numa revisão sistemática, revelaram que não existe nenhuma evidência científica entre a crioterapia e a função e qualidade de vida de utentes submetidos a prótese total do joelho.

O seu uso apesar de trazer uma ligeira melhoria na dor e amplitude, não é justificado tendo em conta o seu contributo para os resultados clínicos procurados nestas intervenções. Bleakley & Davison reforçam esta ideia afirmando que os efeitos desta terapia a nível celular ainda não foram elucidados a nível do corpo e função em geral e são difíceis de contextualizar num modelo humano.

Da ciência à prática

No que concerne à prática clínica, e com os fisioterapeutas da nossa clínica, a crioterapia não deixa de ter um papel importante na abordagem terapêutica. Isto porque, apesar de não haver evidência científica nos efeitos diretos, os seus efeitos indiretos já justificam a sua utilização.

Por exemplo, num utente submetido a prótese total do joelho é necessário mobilizar a articulação o quanto antes, de forma a maximizar os resultados clínicos: dor, amplitude, força e função. A crioterapia pode facilitar esta abordagem permitindo uma ação mais concentrada sobre estes quatro parâmetros. Logo, apesar de não ter um efeito direto na função e qualidade de vida acaba por facilitar a abordagem terapêutica que contribui para atingir bons resultados. 

Texto da autoria do Fisioterapeuta Hugo Ribeiro.

Bibliografia:

Bleakley CM, Davison GW. What is the biochemical and physiological rationale for using cold-water immersion in sports recovery? A systematic review. British Journal of Sports Medicine 2010;44:179-187.

Chris M. Bleakley & Gareth W. Davison. Cryotherapy and inflammation: evidence beyond the cardinal signs. Paginas 430-435 | 19 Jul 2013

Adie  S, Kwan  A, Naylor  JM, Harris  IA, Mittal  R. Cryotherapy following total knee replacement. Cochrane Database of Systematic Reviews 2012