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Inatividade Física e COVID-19

Desde finais do ano de 2019 que a COVID-19 tem sido um assunto diário em todo o mundo. Com o risco de infeção e consequente propagação da doença muito elevados, a COVID-19 obrigou a grandes alterações no estilo de vida, hábitos e estratégias de proteção e prevenção de toda a população.

Num primeiro momento, o que sabíamos sobre a doença era muito inferior ao que não sabíamos. Desde a sua forma de transmissão aos fatores de risco, tudo teve de ser investigado de modo a conhecermos para podermos prever. Os fatores de risco são hoje já conhecidos e sabemos que a idade, existência de doença cardiovascular, obesidade, hipertensão ou diabetes são os principais fatores associados a uma infeção por COVID-19 com sintomas severos. No entanto, a lista parece estar incompleta. Mais recentemente começou-se a investigar a relação entre a inatividade física e a infeção por COVID-19. Numa primeira visão, fará todo o sentido pensar que, de facto, existe uma relação positiva entre estas, uma vez que a existem fortes evidencias científicas que comprovam os benefícios da atividade física na saúde. Está bem comprovado que a prática regular de atividade física, além de outras vantagens, fortalece o sistema imunitário e que, para estas pessoas, a incidência, intensidade de sintomas e mortalidade é mais reduzida em várias infeções virais.

Promoção da saúde cardiovascular, ganhos de força, melhora a capacidade pulmonar bem como reduz o risco de inflamação sistémica (um dos principais contribuintes para o dano pulmonar causado pela COVID-19) ou efeitos positivos na diabetes, são alguns dos benefícios da prática de atividade física mais diretamente relacionados com a doença em causa, sendo uma forma de controlo dos fatores de risco, até então, associados à doença. Foi nesta linha de pensamento que investigadores decidiram perceber qual a associação estabelecida entre os níveis de atividade física das pessoas que tinham sido infetadas com COVID-19 e a gravidade dessa infeção. Este artigo, os autores concluíram de forma clara que pessoas que registavam os níveis de atividade física recomendados pela Organização Mundial de Saúde (consultar artigo passado), nos dois anos anteriores à doença, apresentaram probabilidades mais baixas de hospitalização, admissão em Unidades de Cuidados Intensivos ou morte, apresentando, na sua maioria, sintomas mais leves, ou mesmo ausência de sintomas.

Desde o início do aparecimento deste novo vírus, até hoje (2 anos depois), um pouco por todo o mundo, foram adotadas medidas que acabariam por reduzir ainda mais os níveis de atividade física. Na população portuguesa, os níveis de atividade física, que pré-pandemia já não eram animadores, foram ainda mais reduzidos com a necessidade de se impor um recolher obrigatório e reduzir as saídas apenas às estritamente necessárias, limitando o acesso a ginásios ou parques. Estes não são, de todo, bons indicadores para o que será o futuro do nosso país, prevendo-se que, mesmo não sendo de forma direta, através da infeção por COVID-19, num futuro próximo os valores anuais de acidentes cardiovasculares, diabéticos, entre outros, venham a aumentar como consequência colateral da desta doença.

Em suma, é importante perceber que a prática de atividade física é um fator fundamental na longevidade, através da promoção de saúde a todos os níveis – físico e mental. Não obstante a sua influência na prevenção da gravidade da infeção por COVID-19, a prática de atividade física é igualmente importante pós infeção. Nos relatos de sequelas pós infeção têm sido muito referidos problemas como cansaço, dores de cabeça ou mesmo perda do olfato e paladar. A atividade deve ser feita tendo em conta as limitações apresentadas e sempre com o objetivo de promover as melhorias nos sintomas, nomeadamente melhoria da aptidão física, ganho de massa muscular e aprendizagem do correto controlo respiratório, de modo a providenciar uma melhor e mais rápida recuperação, bem como o retorno a uma vida ativa e saudável.

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