António Gaspar > COVID-19 – Os Impactos da Doença

COVID-19 – Os Impactos da Doença

A atual pandemia causada pela COVID-19 tem alterado as rotinas de praticamente todos nós. Se antes de 2020 a inatividade física já era descrita como um problema de saúde pública, com mais de um quarto das pessoas a não atingir os níveis mínimos de atividade recomendada, hoje em dia já se sabe que o confinamento teve um efeito negativo em todos os níveis de atividade. Assim sendo, desde as ligeiras caminhadas diárias até à atividade física vigorosa, todas as atividades foram drasticamente reduzidas devido ao confinamento, bem como assistimos a um aumento de 5 para 8 horas diárias do tempo que passamos sentados.

As recomendações de exercício consistem na prática de 200 a 400 minutos por semana de exercício aeróbio, e de 2 a 3 dias de exercícios de força,  onde podem ser incorporados exercícios realizados com peso corporal, como agachamentos, flexões de braço, ou com pesos (garrafas de água e/ou pacotes de comida).

Tal como sabemos, a atividade física é um fator fundamental na prevenção de doenças crónicas e, ao passo que demoramos semanas a notar as alterações fisiológicas da prática de exercício (ganho de massa muscular, melhoria da capacidade cardiovascular, diminuição dos níveis de ansiedade, melhoria da qualidade do sono, entre outros), em poucos dias revertemos essas alterações. Visto isto, a atividade física é claramente um fator que permite a obtenção de grandes melhorias e prevenção de doenças na saúde de todos. Contudo, os seus efeitos dependem de fatores como continuidade e consistência, bem como do tipo de estímulo de treino. O confinamento provoca uma rápida deterioração da saúde cardiovascular e aumenta o número de mortes prematuras em populações com risco cardiovascular elevado. Está cientificamente comprovado que mesmo a inatividade de curto prazo (1-4 semanas) está associada a efeitos prejudiciais na função da estrutura cardiovascular e no aumento dos fatores de risco cardiovasculares. 

Neste cenário crítico que vivemos atualmente, a realização de um programa de exercício físico em casa é determinante para a promoção e manutenção de um estilo de vida mais ativo, que trará muitos benefícios ao nível da saúde cardiovascular, emocional e do seu bem-estar em geral. Estes programas de exercício em casa têm-se demonstrado eficazes e seguros na prevenção de doenças cardiovasculares, em problemas mentais como a depressão e ansiedade, e mesmo com problemas físicos, resultantes do excesso de comportamentos sedentários.

Figure 1 – Consequências da inatividade física provocada pelo confinamento na saúde cardiovascular (A) e os benefícios de realizar um programa de atividade física no controlo dos distúrbios cardiovasculares induzidos pela inatividade (B). (Peçanha et al. 2020)

A COVID-19, além de colocar grande parte da população confinada em casa, afeta principalmente aqueles que sofrem com a doença. Sabemos que há pessoas que são assintomáticas, outras que têm sintomas leves e, ainda, aquelas que sofrem com sintomas mais graves que, frequentemente, culminam no internamento. São nestes dois últimos grupos que os efeitos pós-doença se revelam mais graves pela imobilização e/ou pelas complicações inerentes ao internamento hospitalar, que se podem revelar a nível respiratório, cardiovascular, renal, gastrointestinal, neurológico e músculo-esquelético. 

A reabilitação após imobilização e/ou internamento consiste num plano de exercício com base no indivíduo e na progressão subjacente, que poderá ir, desde a movimentação no leito e curtas distâncias, até à prática de exercícios ou desportos prédoença. Os doentes que realizaram reabilitação mostram melhorias na função pulmonar e resistência cardiovascular, melhorias na qualidade de vida e aumento da massa muscular, embora alguns mantenham défices ventilatórios prolongados.

Os problemas causados pela doença da COVID-19 não se restringem a uma população específica. A doença não distingue idade, sexo ou nível de atividade física. Sabemos que, pessoas que interrompem de forma abrupta a prática de exercício físico podem estar tão expostas a problemas como as pessoas que não registavam qualquer nível de atividade física, antes do confinamento. Assim sendo, tanto é importante os que já faziam exercício antes do confinamento não deixarem de o praticar, como é fundamental aqueles que não tinham esse hábito começarem agora a desenvolvê-lo.

Referências: 

Ammar, A., Brach, M., Trabelsi, K., Chtourou, H., Boukhris, O., Masmoudi, L., Bouaziz, B., Bentlage, E., How, D., Ahmed, M., Müller, P., Müller, N., Aloui, A., Hammouda, O., Paineiras-Domingos, L. L., Braakman-Jansen, A., Wrede, C., Bastoni, S., Pernambuco, C. S., Mataruna, L., … Hoekelmann, A. (2020). Effects of COVID-19 Home Confinement on Eating Behaviour and Physical Activity: Results of the ECLB-COVID19 International Online Survey. Nutrients, 12(6), 1583. https://doi.org/10.3390/nu12061583

CERAVOLO, M. G., ARIENTI, C., de SIRE, A., ANDRENELLI, E., NEGRINI, F., LAZZARINI, S. G., … NEGRINI, S. (2020). Rehabilitation and COVID-19: The Cochrane Rehabilitation 2020 rapid living systematic review. European Journal of Physical and Rehabilitation Medicine, 56(5), 642–651. https://doi.org/10.23736/S1973-9087.20.06501-6

Dempsey, P. C., Sacre, J. W., Larsen, R. N., Straznicky, N. E., Sethi, P., Cohen, N. D., Cerin, E., Lambert, G. W., Owen, N., Kingwell, B. A., & Dunstan, D. W. (2016). Interrupting prolonged sitting with brief bouts of light walking or simple resistance activities reduces resting blood pressure and plasma noradrenaline in type 2 diabetes. Journal of hypertension, 34(12), 2376–2382. https://doi.org/10.1097/HJH.0000000000001101

Ferran, M., Galipienso, F., Gomar, F., & Galeano, H. (2020). Metabolic Impacts of Confinement during the COVID-19 Pandemic Due to Modified Diet and. Journal Nutrient, 12, 3–17.

Halpin, S. J., McIvor, C., Whyatt, G., Adams, A., Harvey, O., McLean, L., … Sivan, M. (2021). Postdischarge symptoms and rehabilitation needs in survivors of COVID-19 infection: A cross-sectional evaluation. Journal of Medical Virology, 93(2), 1013–1022.

https://doi.org/10.1002/jmv.26368

Peçanha, T., Goessler, K. F., Roschel, H., & Gualano, B. (2020). Social isolation during the COVID-19 pandemic can increase physical inactivity and the global burden of cardiovascular disease. American journal of physiology. Heart and circulatory physiology, 318(6), H1441–H1446. https://doi.org/10.1152/ajpheart.00268.2020

Thomas, P., Baldwin, C., Bissett, B., Boden, I., Gosselink, R., Granger, C. L., … Lee, L. Van Der. (2020). Physiotherapy management for COVID-19 in the acute hospital setting: clinical practice recommendations. (January).