António Gaspar > Skate e as entorses do tornozelo: Peace & Love

Skate e as entorses do tornozelo: Peace & Love

O Skateboarding consiste, de uma forma geral, em deslizar sobre o solo ou realizar saltos e manobras sobre obstáculos mantendo o equilíbrio numa prancha denominada de skate. Este desporto originário da Califórnia tem sub-disciplinas competitivas e não competitivas, que se desenvolveram de forma orgânica e com períodos intermitentes de popularidade ao longo da sua história. A introdução de rodas de poliuretano e novos designs de pranchas melhoraram a velocidade e a manobrabilidade dos skates levando a um aumento no número de praticantes. Como tal, houve também uma subida no número de lesões, motivando a proibição da sua prática em espaços públicos em diversos países no final dos anos 70 e 80. Nas décadas seguintes, a sua popularidade foi crescendo em todo o mundo, levando à inclusão do skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Atualmente existem cerca de 11 milhões de skatistas ativos no mundo, e estima-se que este número continue a crescer, bem como o grau de dificuldade das manobras realizadas, o que por sua vez, pode levar a mais lesões relacionadas com o desporto.

As lesões no skate variam de pequenas lacerações/contusões a fraturas ósseas. Pela sua gravidade, as fraturas, têm recebido maior atenção na literatura do skate; o uso exclusivo de registos hospitalares como metodologia em diversos estudos, tende a ignorar inúmeras lesões que não receberam atendimento médico/hospitalar. De acordo com Rodríguez et al. (2020) as lesões no skate envolvem predominantemente os membros inferiores, sendo a entorse do tornozelo (tibio-tarsica) a lesão mais comum e também a com maior probabilidade de recidiva. Ainda segundo este estudo, 67% dos skatistas lesionados não seguem nenhum programa específico de reabilitação antes do regresso à prática. De forma a não desenvolver problemas crónicos recomendamos uma avaliação com um fisioterapeuta , que lhe poderá indicar a melhor abordagem a seguir até regressar à prática de skate.

O principal mecanismo de lesão da tibiotársica é em inversão excessiva do tornozelo provocando estiramento ou rutura de ligamentos do complexo lateral. O tratamento varia conforme a gravidade da entorse, sendo consensual a reabilitação com fisioterapeutas das entorses de grau I e II. 

O protocolo PEACE & LOVE é bastante útil no tratamento deste tipo de lesões. Basicamente consiste em duas fases: uma inicial (aguda) denominada PEACE e uma fase seguinte (dois a três dias após a lesão) denominada de LOVE. O que deverá ser feito em cada uma destas fases é ditado pelo significado deste acrónimo:

  • P – Protection – Cessar as atividades que provoquem dor nos primeiros dias, repouso.
  • E – Elevation – Manter o membro afetado acima do nível do coração.
  • A – Avoid Anti-inflammatory – Não tomar anti-inflamatórios.
  • C – Compression – A compressão deve ser realizada com ligadura elástica ou tape, na tentativa de atenuar o edema.
  • E – Educate – Sensibilizar o utente do problema das fases de recuperação e da gestão de carga que poderá pôr sobre a área afetada.
    &
  • L – Load – Adicionar carga e movimento, de modo a que não aumente a dor.
  • O – Optimism – Manter-se confiante e otimista está associado a melhor resultado e prognóstico.
  • V – Vascularization – Fazer atividades cardiovasculares para irrigar os tecidos afetados e aumentar o metabolismo.
  • E – Exercise – Irá ajudar a restaurar a mobilidade, força e propriocepção, evitando as recidivas.

Relativamente às entorses severas ou grau III (rutura completa de um complexo ligamentar) a escolha do plano terapêutico não é consensual. Por vezes recomenda-se o tratamento conservador em vista a melhorar movimento e função, uma vez que as entorses severas quando não reabilitadas, originam frequentemente recidiva ou instabilidade crónica. O tratamento cirúrgico pode ser importante em situações selecionadas e muito específicas, porém,a cirurgia deve ser encarada apenas como uma escolha secundária ao tratamento conservador, caso este se revele ineficaz na devolução da funcionalidade à articulação.

Privilegie deste modo a opção pelo tratamento conservador com fisioterapeutas. Para assegurarmos um retorno ótimo à normalidade: PAZ & AMOR (PEACE & LOVE)!

Referências Bibliográficas

  • Doherty C, Bleakley C, Delahunt E, et al. Treatment and prevention of acute and recurrent ankle sprain: an overview of systematic reviews with meta-analysis. British Journal of Sports Medicine 2017;51:113-125.
  • Dubois B, Esculier J. Soft-tissue injuries simply need PEACE and LOVE. British Journal of Sports Medicine 2020;54:72-73.
  • Feletti, F., & Brymer, E. (2018). Pediatric and adolescent injury in skateboarding. Research in Sports Medicine, 26(sup1), 129–149. doi:10.1080/15438627.2018.1438285 
  • Fong DT, Man CY, Yung PS, Cheung SY, Chan KM. Sport-related ankle injuries attending an accident and emergency department. Injury 2008 Oct;39(10):1222-7.
  • Fong DT, Chan YY, Mok KM, Yung P, Chan KM. Understanding acute ankle ligamentous sprain injury in sports. Sports Med Arthrosc Rehabil Ther Technol 2009;1:14.
  • Ivins D. Acute ankle sprain: an update. Am Fam Physician 2006 Nov 15;74(10):1714-20.
  • Kerkhoffs GM, Handoll HH, de Bie R, Rowe BH, Struijs PA. Surgical versus conservative treatment for acute injuries of the lateral ligament complex of the ankle in adults. Cochrane Database Syst Rev 2007(2):CD000380.
  • Maughan KL. Ankle Sprain 2009 
  • Moreira V, Antunes F. [Ankle sprains: from diagnosis to management. The physiatric view]. Acta Med Port2008 May-Jun;21(3):285-92.
  • Rodríguez-Rivadulla, A., Saavedra-García, M. Á., & Arriaza-Loureda, R. (2020). Skateboarding Injuries in Spain: A Web-Based Survey Approach. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, 8(3)
  • Rogier M. van Rijn ea. What is the clinical course of acute ankle sprains? A systematic literature review. The American Journal of Medicine 2008;121:324- 31.