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Jogos Paralímpicos e as Próteses

O desporto paralímpico tem a sua génese na segunda guerra mundial com o pretexto de reabilitação dos soldados feridos em batalha. Uma vez inventada a penincilina, existia uma expectativa de vida prolongada para os veteranos de guerra que regressavam com lesões incapacitantes. Como tal, a sua reabilitação assumiu uma grande importância no retorno à vida normal. O Hospital Stoke Mandeville (em Londres) sob a liderança do Dr. Ludwig Guttmann foi pioneiro na realização de atividades desportivas como forma de reabilitação para pessoas com lesões medulares. Estas actividades foram-se desenvolvendo e adquirindo caracteristicas competitvas sob a forma de jogos, sendo que em 1960 estes jogos foram realizados em Roma, ficando conhecidos como os primeiros Jogos Paralímpicos.

Desde a primeira edição de 1960 em Roma até aos Jogos de 2016 no Rio de Janeiro, a participação nos paralímpicos de verão aumentou de 600 para 4378 atletas. A maioria dos participantes é do sexo masculino (entre 62% a 79%) e a lesão vertebro-medular (LVM) é a incapacidade mais comum, seguida por amputação / deficiência de membro, paralisia cerebral e deficiências visuais.

Conforme categorizado pelo Comité Paraolímpico Internacional (COI), existem 22 desportos de verão, sendo que os mais populares e frequentemente estudados na literatura médica são: o basquetebol cadeira-rodas (CR), rugby CR, ténis CR, atletismo, natação e futebol. O atletismo, composto por eventos de corridas de curta duração e distâncias longas, bem como de salto, arremesso e pentatlo, tem o maior número de participantes, representado 24-26% de todos os participantes nas Paraolimpíadas de 2012 e 2016. Nesta modalidade os atletas são colocados em 26 classes numeradas com base na função motora e tipo de deficiência (física, visual e intelectual).

No basquetebol, rugby e ténis, a cadeira de rodas é o equipamento de destaque, com pequenas diferenças na sua construção consoante a exigência do desporto em questão; na natação as próteses e dispositivos auxiliares não são permitidos (apenas em eventos não-competitivos) e, o futebol invisual faz uso de uma bola com avisos sonoros; a utilização de próteses por parte dos atletas é mais comum no atletismo.

A introdução de próteses com armazenamento de energia no início da década de 1990 foi um dos maiores avanços no paraatletismo. Projetadas para imitar as propriedades “de mola” da perna humana, permitiram que os atletas melhorassem significativamente os seus desempenhos e reduziram a ocorrência de lesões. A “running blade”, que ficou conhecida através do corredor Oscar Pistorius, é uma prótese de armazenamento de energia especializada, que por compressão durante a fase de apoio, a energia é armazenada e quando libertada ajuda a impulsionar o atleta para frente, reduzindo assim o custo metabólico. O número de camadas de fibra de carbono usadas nesta prótese varia a fim de alterar a flexibilidade e a forma da lâmina, dependendo se ela é usada para corridas de curta ou longa distância. Este tipo de próteses geraram controvérsia em relação ao papel da tecnologia como habilitadora vs aprimoradora do desempenho, sobretudo quando em 2012 Pistorius tornou-se no primeiro corredor amputado a competir em Jogos Olímpicos.

Na literatura existente há discordância sobre o impacto exato que as próteses específicas para corrida (RSP’s) têm sobre o desempenho. Estas retornam até 95% da energia mecânica armazenada, ao contrário dos membros inferiores que retornam mais de 100% (devido à contracção muscular activa); assim, em comparação com um membro inferior intacto, as RSP’s são piores no que diz respeito ao armazenamento e retorno de energia. Além disso, as RSP’s também não permitem ajustes neurais na rigidez durante a corrida, sendo relatadas diferenças na cinemática de membros inferiores entre corredores saudáveis e amputados. Correr com RSP’s resulta em passos mais longos em comparação com um membro biológico, bem como uma força de reação do solo vertical mais baixo e mais longo em comparação com a perna sã; portanto, a aplicação total de força resultante não precisa ser tão alta nem a força dos membros inferiores tão grande.

Existem ainda outros modelos de próteses, como a “J-leg”, desenvolvida especificamente para eventos de lançamento de peso e disco, permitindo que o joelho fique fixo dando maior estabilidade no movimento de rotação.

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Bibliografia:

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  • Fletcher, J.R.; Gallinger, T.; Prince, F. How Can Biomechanics Improve Physical Preparation and Performance in Paralympic Athletes? A Narrative Review. Sports 2021, 9, 89
  • Groothuis, A., & Houdijk, H. (2019). The effect of prosthetic alignment on prosthetic and total leg stiffness while running with simulated running-specific prostheses. Frontiers in Sports and Active Living, 1, 16
  • Hobara, H. (2014). Running-specific prostheses: The history, mechanics, and controversy. Journal of the Society of Biomechanisms, 38(2), 105–110.
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  • Matsuwaka, S. T., & Latzka, E. W. (2019). Summer Adaptive Sports Technology, Equipment, and Injuries. Sports Medicine and Arthroscopy Review, 27(2), 48–55.

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